Aquele dedo que penetra a flor em Vale Abraão. Ema, de beleza exuberante, no laranjal, magnética como um felino. A melancolia no olhar de Mastroianni, quiçá alter-ego de Oliveira, indo aos lugares matriciais, em Viagem ao Princípio do Mundo. Os fantasmas, os mitos e os demónios da nossa história, em Non, ou a Vã Glória de Mandar. Os personagens que lidam com a angústia da finitude, do envelhecimento, com a frustração. Os personagens que riem e escarnecem. O mistério da fecundação em Benilde.

A cinematografia de Manoel de Oliveira é atravessada por temas recorrentes, por vezes obsessões.

Na primeira parte do ciclo Um Filme Falado (que aconteceu entre Outubro de 2022 e Maio de 2023), o foco incidiu sobre as relações do cinema com as outras artes. Este ano, desenvolvemos a programação a partir destes núcleos temáticos: Humor, Desejo, Impotência, Morte, O passar do tempo, Origem, Mulher, História, Mistério.

O desenho de cada sessão mantém-se: começamos com uma apresentação por cada uma das duas pessoas presentes, segue-se a exibição do filme, e, por fim, discussão entre os dois durante 30 / 45 minutos.

Então como agora, promove-se um diálogo de Oliveira com (e a partir de) grandes clássicos da cinematografia mundial, como Lubitsch, Jean Vigo, Orson Welles ou Fellini, uma linhagem à qual Oliveira pertence. Especialmente para um público jovem, o ciclo possibilita ver em grande ecrã grandes clássicos da história do cinema numa cadência mensal, até ao final do ano.

Concepção e moderação: Anabela Mota Ribeiro